Veículos elétricos no Brasil: quais são os desafios e avanços?
Um relatório da NeoCharge aponta que a frota de veículos elétricos e híbridos no Brasil triplicou entre 2020 e 2023. Apesar do avanço, se comparado com outros países, o resultado mostra que ainda estamos caminhando lentamente.
Em entrevista ao Jornal da USP, Adriana Marotti, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA), faz uma análise dos resultados e explica em que estágio está o Brasil nesse sentido.
Contexto de eletrificação da frota brasileira
- Em 2022, os veículos elétricos representavam 2,5% de todo o mercado automobilístico, sendo metade desse baixo porcentual relativa à venda de VEHs (Veículo Elétrico Híbrido).
- Segundo Marotti, o fato está relacionado ao alto valor dos carros elétricos.
- O Brasil não tem nenhum incentivo para a compra de automóveis elétricos, como outros países, que possuem isenção de taxas.
- Por outro lado, o incentivo para fabricação e compra de ônibus elétricos é visto como algo positivo.
- O país tem domínio sobre a tecnologia de motor elétrico, baterias e também possui capacidade de produção. Mas, quando o assunto é sistemas sofisticados, depende de importações.
- Além disso, as reservas de lítio e cobalto, usados nas baterias, estão concentradas em poucas regiões, como Chile, Congo, Argentina e Austrália.
- Mesmo que o Brasil tenha um pequeno estoque e produção de lítio, isso não garante autossustentabilidade em um mercado crescente.
Investimento privado em infraestrutura
Marotti explica que a tendência é que a infraestrutura necessária para o carregamento de uma grande frota elétrica venha de um investimento privado:
Não há uma política pública para os eletropostos. Mas, com o aumento do número de VE, há um crescente investimento de empresas privadas na construção de postos de recarga públicos e semipúblicos, dentro de shoppings, supermercados e outros prédios comerciais.
Adriana Marotti para o Jornal da USP
O aumento de investidores e o modelo de carregamento rápido estão tornando o negócio viável. A marca Shell, por exemplo, já está incluindo eletropostos em sua rede.
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Mudanças legislativas
Para que a eletrificação da frota brasileira se estabeleça, algumas mudanças legislativas precisam acontecer. Segundo Marotti, já existem algumas normas em discussão no âmbito municipal, estadual e nacional.
Inclusive, no município de São Paulo, está previsto que condomínios disponibilizem vagas com carregadores elétricos. Também está tramitando na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na Câmara e no Senado, projetos para padronizar a construção de eletropostos em rodovias federais e postos de gasolina.
Mobilidade sustentável e justa
A especialista destaca que eletrificar a frota não é sinônimo de uma mobilidade sustentável a longo prazo e que integre todas as camadas sociais:
Eletrificar a frota não significa ter mobilidade sustentável e justa para toda a sociedade. Estamos falando de transporte público de qualidade, integrado a outras formas ativas de mobilidade, como bicicletas e pedestres, e não apenas veículos individuais de passeio, que são a forma mais excludente de transporte.
Adriana Marotti para o Jornal da USP